19 junho 2020

9 dicas para você lidar com as dores nos dedos após o Jiu-Jitsu

Sintomas da artrose nas mãos do lutador Raphael Abi-Rihan. Foto: Raphael Nogueira/GRACIEMAG

*Por: Dr. Gustavo Asmar

O praticante de Jiu-Jitsu pode desenvolver lesões degenerativas, principalmente quando se submete a treinamentos para a alta performance esportiva por um longo período. Dor e deformidade nos dedos das mãos estão entre as queixas mais comuns em meu consultório. Isso se deve às intensas pegadas que fazem no kimono dos oponentes.

Sobrecarregadas, as articulações dos dedos (chamadas tecnicamente de interfalangeanas proximais e distais) sofrem traumas de grande intensidade e também microtraumas, apresentando um grande risco de degenerar e destruir a cartilagem articular, evoluindo para a ocorrência de artrose nas mãos. Vale destacar que o desenvolvimento dessa artrose também está ligado a questões genéticas, como qualquer outro processo degenerativo.

São poucos os estudos científicos sobre o tema. Os publicados se referem a judocas. Tais análises concluem que algumas práticas podem favorecer a evolução mais benigna do quadro, trazendo menos dor para o lutador, porém não possibilitam a cura do problema, tampouco vão interromper o processo degenerativo.

Entre essas práticas, podemos citar:

1- Estimular os treinos sem kimono
Treinos sem kimono oferecem descanso para as pegadas intensas no pano do kimono. Caso você esteja num período de crise, vale a pena intercalar os treinos. Por exemplo: um dia com kimono, outro dia sem kimono. É uma forma de seguir treinando Jiu-Jitsu e ao mesmo tempo contribuir para a recuperação das articulações. Útil também para prevenir as lesões em atletas mais jovens, que ainda não apresentam lesões cartilaginosas.

2- Adaptar o jogo
Em caso de dor aguda e lesões já em curso, evitar posições que exigem maior desgaste da pegada, como a guarda-aranha. Você também não precisa brigar pela pegada sempre. Muitas vezes, quando o oponente está tentando estourar de forma implacável, basta soltar o pano e refazer a pegada logo seguida. Também não é recomendável que você seja “refém das pegadas”. Analise, por exemplo, o eficiente Jiu-Jitsu do Kron Gracie. Ele costuma fazer pegadas pontuais, não fica o tempo todo desgastando as mãos com pegadas estáticas. Jogos travados costumam desgastar mais as pegadas, deixe o seu Jiu-Jitsu fluir. Pense sobre isso.

3- Malhe o antebraço
Fazer uma boa preparação física de fortalecimento dos músculos do antebraço (muito utilizados na hora de fazer pegada) não vai prevenir a evolução da doença, porém, quanto mais estável uma articulação menores serão as dores locais e melhor será a performance.

4- Calor local
Você pode praticar exercícios de mobilidade articular com calor local, como abrir e fechar as mãos em água quente (numa temperatura que não queime a pele, claro). Isso evita a evolução de limitação do arco de movimento dos dedos, sendo fundamental para melhorar a evolução da doença.

5- Gelo logo após o treino
O gelo local melhora o processo inflamatório após as lutas, suavizando a dor. Porém, não tem efeito na evolução da doença, sendo apenas uma medida emergencial sintomática.

6- Cuidado com os remédios anti-inflamatórios
Muitos atletas usam com regularidade remédios anti-inflamatórios, uma péssima alternativa! Além de todos os efeitos colaterais, trabalhos mostram que seu uso aumenta a síntese do colágeno tipo X ao invés do colágeno tipo II, o colágeno mais resistente e protetor da articulação. Ou seja, o uso indiscriminado do remédio acaba piorando a artrose no longo prazo.

7- Uso de condroprotetores
Substâncias como glucosamino, condroitino e colágeno podem melhorar a dor articular em alguns atletas. Como não há uma importante comprovação científica, podem ser usadas por três meses. Caso o atleta sinta melhora, deve continuar o uso. Se não houver melhora, pode interromper, pois é um tratamento de alto custo.

8- Ômega 3
Algumas substâncias antioxidantes costumam melhorar o processo inflamatório e as dores quando usadas no longo prazo. O único com evidências científicas é o Ômega 3.

9- Fisioterapia
Massagens e drenagens realizadas por fisioterapeutas tendem a melhorar a rigidez e a inflamação na região afetada.

Resumindo, quando falamos em alta performance, um bom treinador físico na elaboração do treinamento de força, um bom fisioterapeuta especializado no recuperação do corpo e um ortopedista para diagnosticar as lesões de forma precoce e iniciar o tratamento adequado são fundamentais para a saúde do atleta

*Dr. Gustavo Asmar é ortopedista do INTO, especialista em trauma do esporte e cirurgia de vídeo artroscópica.



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