Como base na sua experiência como professor de Jiu-Jitsu ao longo de tantos anos, quais dicas você daria aos leitores da GRACIEMAG que desejam se tornar faixas-pretas de sucesso?
Acreditar nos fundamentos que o professor ensina, seguir treinando com muita humildade e entender que o processo do Jiu-Jitsu é uma jornada longa e com várias fases. Vivemos numa cultura imediatista de uma forma geral, mas o Jiu-Jitsu ensina que é necessário amar o processo, semear para colher no longo prazo, ter perseverança, atenção aos detalhes e energia para viver cada novo desafio.
Quais foram os principais desafios que você teve que vencer ao longo da sua carreira no Jiu-Jitsu para chegar ao topo?
Quando iniciei minha trajetória no Jiu-Jitsu, na Gracie Barra Matriz, tive muitos desafios, como ter que trabalhar em dois empregos para me manter financeiramente e conseguir continuar treinando. Assim como o Jiu-Jitsu ensina a ter perseverança dentro e fora do tatame, eu persisti com esses dois trabalhos e pude comprar kimono, me alimentar de forma saudável e investir no meu sonho e por um bom tempo, trabalhei muito para dar suporte ao meu sonho, até que fui contratado como professor da Gracie Barra Matriz e pude viver exclusivamente do Jiu-Jitsu e me dedicar ainda mais.
Você gosta mais de competir ou de dar aulas?
São benefícios diferentes, competindo eu possibilito mudanças em mim mesmo para estar bem para ajudar ao outro e lutar por algo maior que eu: o Jiu-Jitsu dentro e fora do tatame. Ensinando eu melhoro a vida do outro, e promovo transformação, vejo uma pessoa chegando à academia com vários problemas e crenças limitantes e ao longo do processo, a pessoa muda na vida e no Jiu-Jitsu. Como professor, pude testemunhar mudanças significativas na vida dos meus alunos, como por exemplo aluno chegar na escola com sobrepeso, com depressão, e depois se tornar saudável, ter amigos e ser muito mais feliz.
Você está bem rankeado no cenário competitivo do Jiu-Jitsu. Qual é a sua “técnica forte” nos torneios?
Treinando com outros grandes campeões, tive a oportunidade de definir meu jogo e as posições em que me tornei especialista. Sou conhecido como um excelente passador de guarda, e isso foi transformador, pois priorizei estudar esta técnica em um momento na história do Jiu-Jitsu em que a maioria dos grandes atletas queriam apenas estar por baixo. Apesar de ser um desafio, já que muitos treinavam estar por baixo, como a guarda-aranha, eu entendi o valor de estar por cima, com boas pegadas o que me possibilitava passar a guarda bem e me trazia segurança, eu sentia que sempre estava mais forte que o oponente. Esse foi o diferencial para que eu pudesse ter um jogo sólido por cima.
Qual foi a sua grande vitória como lutador e qual foi a sua derrota mais dura?
Minha vida competitiva foi marcada por aprendizados, quando perdia ou ganhava só me acrescentava cada vez mais conhecimentos porque sempre foram os campeonatos mais duros do esporte. Não utilizo a palavra derrota no meu vocabulário, entendo que sempre ganho algo, mais conhecimento, novas experiências e novos amigos.
Quem foi o seu grande ídolo na carreira, aquela pessoa que serviu como diretriz nas suas grandes decisões? Por quê?
Mestre Carlos Gracie Jr, foi o meu professor desde criança até a faixa-preta, foi meu mentor e pai. Por eu não ter tido pai, meus irmãos mais velhos me influenciaram e me levaram para o Jiu-Jitsu, pois também se tornaram exímios faixas-pretas campeões e professores deste que é considerado o maior time de Jiu-Jitsu do mundo, e o professor Carlinhos me ensinou tudo o que eu sei dentro e fora do tatame, me inspirou e me deu toda a base para eu ser o atleta e professor que sou hoje.
Se você tivesse que recomeçar a sua carreira no Jiu-Jitsu, o que você faria diferente? Ou seja, quais erros você evitaria repetir?
Trilhei um caminho com a família Gracie onde tive uma mentoria única que me trouxe uma proposta de vida diferenciada e todos os ensinamentos que eu tive pude colocar em prática em cada decisão que tomei na minha carreira profissional, e as decisões, que posteriormente tive que mudar, considero aprendizados, que me fizeram crescer e amadurecer e me tornar um ser humano melhor para mim, minha família e principalmente para meus alunos. Ser competidor a este nível do esporte e ser professor formado pela academia Gracie e formador de outros grandes campeões também é ser um modelo dentro e fora do tatame para os alunos, e ter essa responsabilidade sempre me levou a pensar muito cuidadosamente sobre minhas decisões e mudar de opinião e caminho sempre que foi necessário.
Já teve que usar o Jiu-Jitsu na rua, em alguma situação de violência urbana?
Precisei usar o Jiu-Jitsu como defesa pessoal quando eu era adolescente, na escola, quando um menino queria me bater e eu consegui imobilizá-lo até a professora chegar. Momento em que pude verificar a eficácia da arte suave e sair da situação sem me machucar. Treinar para nunca precisar usar, mas se precisar usar o Jiu-Jitsu você saber.
Quais são os benefícios que você, como professor de Jiu-Jitsu, oferecerá à cidade onde você for morar nos Estados Unidos?
Como professor de Jiu-Jitsu, poderei continuar a promover principalmente o conhecimento da arte marcial para as comunidades, empoderando os alunos com técnicas de defesa pessoal, garantindo uma comunidade mais segura e saudável. Promover o Jiu-Jitsu é fomentar um estilo de vida saudável e fornecer todos os benefícios que a arte suave oferece ao ser humano, como foco, atenção, disciplina, bem-estar, saúde, respeito ao próximo e as autoridades dentro e fora do tatame. E ainda ter o bônus de formar outros grandes campeões, tanto através do meu exemplo de competidor como através do ensino do esporte.
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