De Pernambuco aos EUA, a história do professor Gabriel Sacramento é repleta de vitórias, não só dentro dos tatames. Professor da Atos Jiu-Jitsu, o faixa-preta coleciona momentos de superação com o esporte, e o exemplo de uma mente blindada.
Em papo com GRACIEMAG, Gabriel contou sobre sua evolução no Jiu-Jitsu, a dificuldade de se dividir entre atleta e professor e a mentalidade necessária para ser um formador de campeões da arte suave. Confira nas linhas abaixo!
GRACIEMAG: Como foi o seu início no esporte? Como você conheceu o Jiu-Jitsu?
Eu tinha um primo, hoje falecido, chamado Carlos “Tubarão” Dias que treinava Jiu-Jitsu em Recife. Eu morava em Limoeiro, cidadezinha no interior de Pernambuco e só ouvia falar que meu primo era bom na arte e ganhava todos os campeonatos. Em 1998, eu assisti pela primeira vez os UFCs que o Royce Gracie ganhou e aquilo foi incrível pra mim, um cara magrinho batendo nos trogloditas.
Eu não sabia mas, por sorte, na minha cidade já existia uma academia de Jiu-Jitsu do Marcelo França, na época ainda com a faixa-roxa. Então, no dia 3 de novembro de 1998, com meus 15 anos, eu fiz minha primeira aula.
Assim que começou a prática, já teve interesse em competir?
Naquela época não haviam tantos campeonatos e, por ser do interior de Pernambuco, era ainda mais difícil, tanto pra competir quanto pra me graduar. Meu primeiro campeonato só veio quando eu tinha mais de um ano de Jiu-Jitsu, foi um estadual e eu fiquei com o bronze. Depois desse, fui campeão de vários outros. A questão da minha graduação foi ainda mais complicada, já que meu professor não podia me graduar por ser faixa-roxa e o professor faixa-preta dele não nos visitava há vários anos. Em resumo, passei 5 anos de faixa branca (risos). Hoje, quando eu vejo gente impaciente querendo ser promovida rápido, penso na minha experiência e mesmo assim nunca me ocorreu desistir. Obviamente, hoje em dia não dá pra segurar alguém tanto tempo numa faixa se a pessoa está treinando, mas desistir porque não está sendo graduado é bobeira.
Como foram seus primeiros anos nas faixas coloridas?
Meu professor disse: “Sacramento, algum faixa-preta precisa te dar o aval pra colocar a azul na cintura”. Quando fui pro outro campeonato, falei com o faixa-preta da equipe do meu professor, expliquei a situação e pedi que ele me olhasse lutando pra que ele julgasse se eu merecia passar pra azul e o faixa-preta (Nozinho) disse: “Conquiste pelo menos a terceira colocação”. Ganhei minhas quatros lutas e fui campeão estadual finalizando todos os oponentes. Fui graduado à faixa-azul no campeonato mesmo.
Competi muito na branca e azul, mas fui pai precocemente e meus planos de competir foram adiados, pois passei a trabalhar muito. Só voltei a competir na faixa-preta em 2012. Daí em diante, sempre estou competindo, ganhando, aprendendo e curtindo a jornada.
Em que ano você pegou a faixa-preta e das mãos de quem? Qual a melhor memória deste dia?
Recebi minha Faixa preta em 12 de janeiro de 2012, pelas mãos do meu professor Leonardo Lira, em uma de minhas academias em Limoeiro. Foi um momento mágico no qual eu renasci dentro da arte. A confiança depositada em mim foi uma alavanca para me fazer querer viver do Jiu-Jitsu.
Como separar a cabeça de atleta/competidor para se tornar um grande professor?
Quando estou treinando pra competição, eu foco somente nas técnicas que servem pra mim, que se encaixam no meu jogo. Se eu tenho tempo, vejo algo eficaz e treino bastante para poder adicionar ao meu jogo. Caso contrário, treino o que eu já faço bem para afiar. Já pra ensinar, preciso abrir minha mente, absorver as técnicas em geral pra me habilitar a ensinar os detalhes a todos, independente de biotipo, idade ou estilo de jogo. Por isso dizem que quando você está ensinando, é difícil treinar pra competir. De fato, é difícil.
Qual o melhor ensinamento da sua época de atleta que você sempre passa aos seus alunos?
Um ensinamento que eu costumo passar pros meus alunos é buscar o prazer de repetir as posições. Repita até fazer sem pensar e sinta prazer em fazê-lo, se condicione até essa satisfação ser espontânea. Uma coisa que eu sempre ouço é: “Professor, sinto que estou regredindo no Jiu-Jitsu, não consigo fazer mais nada”. Eu respondo: “No começo, sempre vão pegar leve com você, então você vai começar a dar pressão e as pessoas vão parar de pegar leve, isso é natural. Você não está regredindo, pelo contrário, está ficando bom e os mais experientes estão te tratando de igual pra igual”.
Quais são as metas do professor para forjar uma equipe ainda mais forte e se destacar como referência no ensino do Jiu-Jitsu e formação de campeões?
Na minha opinião, o mais importante em uma academia de Jiu-Jitsu é proporcionar um ambiente onde famílias treinem juntas. Um local onde as pessoas vão lá pra relaxar do estresse do dia, do trabalho e onde se crie um grande grupo de pessoas boas que ajudem uns aos outros a viver melhor. Competir é consequência, não é necessário. Eu incentivo as crianças a competir sempre, pois é preciso prepara-las para vida, que é a grande competição. Ter a mente aguçada pra agarrar as oportunidades com força e inteligência, nunca abrindo mão da honestidade e do respeito ao próximo.
Tenho como objetivo de vida tirar do papel o projeto de ensinar gratuitamente classes para policiais e bombeiros. Também quero ensinar crianças carentes, dando oportunidades deles viverem do esporte, e principalmente uma classe voltada para pessoas portadoras de necessidades especiais. o projeto é audacioso e requer um apoio grande da população e patrocinadores, mas um dia sai do papel.
O Jiu-Jitsu é tão maravilhoso que hoje me dá a possibilidade de sustentar minha família aqui nos Estados Unidos, assim como já abriu várias outras portas pra mim. Então eu digo pra aquele que nunca tentou ou aquele que pensa em desistir: “Dê a oportunidade do Jiu-Jitsu mostrar a magia que ele possui, você não vai se arrepender”.
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