Texto: Cleiber Maia*
Se você perguntar numa escola quem quer treinar defesa pessoal, nem 20% das crianças vai levantar a mão. Se perguntar quem quer treinar Jiu-Jitsu, nem 10%. Associam luta à violência e Jiu-Jitsu à luta agarrada.
Vivemos numa sociedade pseudopacifista que na ânsia de superproteger seus filhos não estimula o desenvolvimento do instinto de autopreservação.
As crianças não são encorajadas a expressar sua agressividade pois é politicamente incorreto e portanto não se sentem capazes de dar limite a relações abusivas. Essa falta de prática na autorregulação da agressividade torna o indivíduo em alguém potencialmente violento.
Contudo, se você perguntar quem numa escola precisa aprender a exercer o direito à legítima defesa, a resposta é 100% das pessoas, incluindo professores e outros funcionários. A defesa pessoal, na prática é a ferramenta menos usada para exercer o direito à legítima defesa, mas seu treinamento é fundamental para gerar autoconfiança e exercitar o uso da força proporcional. Em 99% dos casos, alguém treinado consegue ser diplomático ou é capaz de demonstrar com apenas um olhar que não aceita covardia e sequer cogita se tornar uma vítima indefesa.
Em educação, nem sempre você pergunta o que o aluno quer aprender, oferece a disciplina necessária da maneira mais lúdica possível para que a criança sinta prazer em executar o movimento educativo.
Aos poucos o aluno vai se sentir desafiado a aperfeiçoar sua performance até que isso seja reconhecido como uma expressão artística.
No caso, mais que uma expressão artística, o Jiu-Jitsu se trata de um fenômeno cultural já que o Brasil se tornou referência mundial na prática esportiva.
Esse é o intuito, apresentar o Jiu-Jitsu não apenas como um esporte, mas como um instrumento de cultura brasileira vanguardista e como uma ferramenta de pacificação social, fazendo com que as crianças percebam que há alternativas práticas para exercer o direito à legítima defesa quando houver uma relação abusiva.
E quando nos referimos a esse direito, devemos enfatizar que há necessidade de defender o outro também, aquele por quem nos importamos e que precisa de ajuda. Isso é estimular a prática da compaixão, agir efetivamente aliviando a dor que o outro sente. Isso é formar indivíduos com responsabilidade social.
*Professor Cleiber Maia é faixa-preta de Jiu-Jitsu e presidente da SJJSAF.
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