14 setembro 2020

A Covid-19 e o Jiu-Jitsu

[ Por Dr. Antonino Eduardo *, faixa-marrom na Academia Rosado, em Copacabana ]

 

Todo dia que entro no CTI, que abriga pacientes portadores da Covid-19, percebo como a técnica e a coragem são atributos necessários também aos médicos.

O coronavírus é um adversário forte – decidido a matar, sorrateiro e feroz.

Ele desconhece o medo e interfere em todos os processos vitais, de forma variada, não demonstrando um padrão claro, o chamado “modus operandi”.

Poderosíssimo, trata-se de um vírus forte e destemido, que não escolhe treino e só faz jogo solto com adversários que não pode finalizar.

Sou um médico das antigas, forjado nas trincheiras da clínica médica, na solidão dos plantões e nas emergências pesadas, nas quais o conhecimento e o treino fazem a diferença entre a vida e a morte.

Ao atuar no combate ao coronavírus, percebi como o Jiu-Jitsu me fortaleceu para o enfrentamento desta pandemia, assim como me dá forças para encarar qualquer que seja a adversidade. Com ou sem jaleco.

A arte suave me deu destemor para lidar com um adversário ao mesmo tempo minúsculo e imenso. Trouxe-me a capacidade de saber que a técnica é vital e decisiva para situações extremas. Como meu mestre Carlos Rosado sempre repete na academia: “Confie na técnica”.

Antonino (de branco) treina com professor Marcelo Maia sob supervisão de mestre Rosado. Foto: Acervo Pessoal.

O Jiu-Jitsu me deu as ferramentas para manter a calma e assimilar o cenário, e reagir com precisão. Fez-me entender que é preciso preparo para manter o foco no combate à doença e, que devemos acreditar no nosso conhecimento técnico. E que a destreza, aliada a um olhar agudo, é fundamental para entender o comportamento do vírus.

O Jiu-Jitsu me proporciona, ainda, cargas e cargas de humildade para entender cada derrota, percebendo que elas são oportunidades de uma melhora interior, compreendendo os erros e reverenciando os acertos.

No Jiu-Jitsu, como na medicina, a repetição salva. É a prática, o estudo, a assimilação, que fazem toda a diferença. A cada luta, ficamos mais fortes – comemorando as vitórias e aprendendo com as derrotas, que machucam mas nos fazem mais sábios. Afinal, a luta sempre continua.

Saúde e Jiu-Jitsu a todos. Oss!

 

* Dr. Antonino é médico intensivista no Rio de Janeiro, gerente médico do Hospital Badim Rede D’Or São Luiz e faixa-marrom da Academia Rosado Jiu-Jitsu.

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